Arquivo de Tag | casulo

Metamorfose

fada039

Em tempo, não tão tarde assim na vida descobri que é possível sair da inércia emocional, e porque não dizer atraso emocional. Muitas vezes o que precisamos é sair do casulo. Sempre tive certeza de muitas coisas na vida e existem coisas imutáveis para mim. Porém, algo que parecia impossível a mim mudou, contrastou significativamente. Acreditei a vida toda que jamais poderia saciar dentro de mim o desejo de valorização. E mais, ouvi isso sequencialmente de algumas pessoas que para mim tinham certo grau de importância em minha vida. Começando por meu progenitor que fazia questão de me reafirmar que estava fadada ao fracasso. Fracasso emocional, fracasso físico, fracasso profissional. Cedo na vida me uni a única pessoa que acreditei gostar de mim de alguma forma verdadeira. A essa pessoa entreguei meus melhores anos, minha abnegação e anulação. Trapaceei minha consciência na tentativa desesperada de fazê-lo feliz e de ser feliz. Todo meu altruísmo e esforço de nada valeram ao perceber que estava tentando alcançar o vento. Um esforço unilateral. Até hoje está além de minha capacidade compreender como alguém que afirma lhe amar não consegue provar e demonstrar isso da mais simples forma. E a frustração veio certeira, num momento em que eu já não encontrava mais forças para sentir prazer em qualquer atividade da vida. Desisti de lutar, de usar minha criatividade, de conversar, propor, desenhar os fatos. A vida se tornou um marasmo e emaranhado de dissabores. E ao passo que tento me libertar de um relacionamento que me aprisiona, busquei na escrita e na leitura uma fuga provisória desse pesadelo. Envolvi-me em um casulo.

Quando me sentia uma simples larva, enclausurada em minhas emoções e negativismo, certa de que seria impossível alguém ver algo de bom em mim – e ao mesmo tempo lutando para dar o melhor de mim para as pessoas que de mim necessitam – algo súbito e inesperado mudou radicalmente minha forma de enxergar a vida. Foi como um anjo enviado para me presentear, aquecendo o casulo com seu hálito em forma de palavras e gestos singelos, me fazendo enxergar que não preciso ser simplesmente essa larva inerte e presa, mas que posso me transformar e me libertar. Alguém que me encontrou da forma mais improvável, e me refez, conquistou e valorizou da maneira mais sublime o pouco que pode conhecer de mim. Não estou exagerando em dizer que foi um divisor de águas. Decisões importantes já estavam tomadas dentro de mim, mas eu não tinha forças, não tinha coragem nem ânimo para executá-las. A experiência mais extasiante que pude experimentar foi sair desse casulo, dessa clausura emocional e ver que além de me sentir bela, de saber que tenho valor para alguém, me senti livre. Vi-me capaz, me senti real. Irônico, mas verdadeiro. É impressionante como pequenos gestos, se tornam grandes e é inacreditável como podem mudar radicalmente a vida de uma pessoa sensível como eu. Qual borboleta recém formada, ainda não posso voar. Mas enquanto as asas ainda não secam e se estendem, sigo tranqüila, mais feliz, com a certeza de saber que tenho valor sim, e ninguém nunca mais me fará acreditar no contrário. Em breve estarei pronta para alçar vôo, e se me for permitido darei tudo de mim para retribuir a quem me fez tão bem. Olhando em seus olhos poderei dizer tudo que emana de meu grato coração. Se não for possível, se os caminhos não se cruzarem, ficarei na certeza de que de qualquer forma foi válido, porque muito de mim mudou para melhor, e ao voar livre lembrarei sempre e pedirei sempre para que a felicidade seja a senda dessa pessoa maravilhosa. Mas ainda me resta a esperança de um dia nos encontrarmos.  Porque não existe liberdade sem amor. Nem amor sem liberdade. Nem metamorfoses totalmente livres de dor e de espera. Mas todas elas valem a pena!

Ao som de Butterfly – Mariah Carey , porque de certa forma todos somos como borboletas.